Realiza-se, este fim de semana, a tradicional Feira do Gado, que regressa este ano, depois de dois anos de interregno devido à situação pandémica.

Perdem-se no tempo as origens desta feira que, com maior ou menor vigor, se foi realizando no Largo de Santana ao longo de séculos.

Memórias Paroquiais de 1758

É neste importante documento do século XVIII, as Memórias Paroquiais de 1758, que encontramos, provavelmente, a mais antiga referência documental a esta Feira ou à que está na origem da nossa Feira atual. Falamos de um inquérito mandado realizar a todas as paróquias do país pelo Marquês de Pombal, a que hoje poderíamos chamar de censos, com questões acerca das características geográficas, sociais, económicas, religiosas e patrimoniais dos territórios que compreendiam cada paróquia, a ser preenchido pelos respetivos párocos.

O documento relativo a Bagunte chegou até aos nossos dias, conservado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, intacto. Neste documento, datado do dia 20 de maio de 1758, sendo abade Luiz Freire de Couto, é notável o cuidado que este abade teve no preenchimento do inquérito, o que permite recolher variadas informações.

Entre as informações que podemos recolher estão as referências a duas feiras anuais realizadas em Bagunte, “uma em cinco de março, e outra em quinze de agosto”, feiras que teriam a duração de apenas um dia, pois “no mesmo dia se desfazem”, refere o abade no inquérito. À atual Feira corresponderá a do dia 5 de março, pela proximidade no que respeita a datas, sendo que a atual Feira se realizava, tradicionalmente, em março, embora mais no final do mês. Outro aspeto evidenciado neste documento é a antiguidade da Feira, que já à data do documento era reconhecida, ao ponto de o abade afirmar que “dizem os moradores que algum tempo fora franca”, remetendo para tempos recuados. À altura do documento já os impostos eram cobrados: “são cativas aos rendeiros da Vila de Barcelos a quem pertence a cobrança dos direitos de tudo que nelas se venda”.

Ficou curioso? Visite a nossa Feira do Gado, conhecida também como a Feira do Desencouco, ou até dos Namorados, tal era a fama dos namoros que pelo Largo de Santana se arranjavam no dia da Feira.

Revisite as nossas tradições, hoje e amanhã, com o seguinte programa:

Sábado, dia 2

𝟏𝟑:00𝐡: Exposição de Máquinas Agrícolas e Florestais.

𝟏𝟖:00h: Abertura das várias barraquinhas das associações e instituições da nossa União de Freguesias

𝟐𝟎:𝟑𝟎h: Atuações dos vários grupos das nossas associações

Domingo, dia 3

14:30h: Desfile de Gado acompanhado por ranchos folclóricos a que se segue o Concurso de Raças Autóctones. Segue-se o Festival de Folclore com os Ranchos das Associações Culturais de Tougues e de Mindelo.
 

Legenda das fotos:
-Feira Anual de Bagunte, cartaz 2022
-Feira Anual de Bagunte, 2018;
-Última página do documento das Memórias Paroquiais referente a Bagunte. “Nada mais sei que possa referir sobre o que se me manda dizer desta freguesia de Santa Maria de Bagunte”, seguindo-se a data já referida e as assinaturas de 3 padres, o pároco de Bagunte, o de São Martinho do Outeiro e o de São Simão da Junqueira, conforme o inquérito o exigia (3 assinaturas, do pároco e ainda de 2 párocos vizinhos). Reprodução do documento original. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4239149;
-Feira Anual de Bagunte, 2018;

Para consultar o documento original digitalizado:
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4238720

Para consultar o documento transcrito:
Silva, Bernardino Areal da. Vila do Conde e as freguesias do seu concelho nas memórias paroquiais de 1758. Guidões: sn, 2008.