Alminhas em Bagunte (cont.)

Alminhas de Figueiró de Cima

As Alminhas de Figueiró de Cima localizam-se junto à Estrada Nacional 309, na propriedade de Manuel Azevedo e Silva (Manuel da Quinta) e presume-se que a sua construção seja do século XIX. Na década de sessenta do século XX apenas existia a estrutura em granito, tendo as pinturas desaparecido fruto da ação do tempo. As Alminhas foram então restauradas pela família. De seguida, foram benzidas pelo pároco da freguesia, Pe. Manuel Sousa Gonçalves, num domingo à tarde, também com direito a procissão e sermão.

Podemos observar que o conjunto granítico inserido na parede está encimado por uma cruz, e que o nicho está protegido por uma grade. No seu interior temos a caixa de esmolas, uma jarra com flores, um candeeiro que em tempos esteve ligado à luz elétrica, e podemos apreciar o painel de azulejos também assinado pelo pintor F. Gonçalves.  Neste painel também se pode ler: “Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando”. Estão representados, mais uma vez, os seguintes elementos: as almas do Purgatório a arder em chamas, um anjo de cada lado e, num plano superior, a imagem de Nossa Senhora do Carmo.
 

 


Alminhas de Casal de Baixo

As Alminhas de Casal de Baixo não estiveram sempre no mesmo local. Inicialmente, estavam na parede da Bouça das Almas, no lugar de Cavaleiros, propriedade da família de António Gonçalves de Oliveira (António de Casal de Baixo). Foram deslocadas em data desconhecida para a parede do atual quintal da casa da Sra. Rosa Oliveira, filha do Sr. António, e, finalmente, em 1953, para a casa do referido António de Casal de Baixo.

As pedras destas Alminhas que estão encastradas na parede junto ao portão de entrada são as originais. O painel pintado que se encontrava na época no seu interior era de madeira e estava muito degradado. Por isso, o Sr. António decidiu, aquando desta última deslocação, fotografar as pinturas que ainda restavam e mandou-as reproduzir num painel de azulejos. Podemos observar neste painel as almas em sofrimento, os Anjos e Nossa Senhora do Carmo. Na parte inferior do painel pode ler-se: “Meu Jesus perdão de misericórdia pelos méritos das vossas Santas Chagas”. Este painel foi pintado na fábrica do Carvalhinho, em Vila Nova de Gaia. Em cima das Alminhas aparece-nos a cruz, no seu interior o candeeiro e a jarra com flores, e, na lateral, a caixa das esmolas. Está protegida por uma grade com fechadura.

A Sra. Rosa Oliveira lembra-se muito bem do dia em que as Alminhas foram benzidas pelo P.e Augusto Portas Salgado, até porque coincidiu com a sua Comunhão Solene. Foi no dia 27 de setembro de 1953 e houve procissão e sermão. Nesse dia foi-lhe entregue um “Santinho” no qual foi possível confirmar, com precisão, a data acima referida.

Anos mais tarde, o Sr. António, dada a sua grande devoção a Santo António e a Nossa Senhora das Neves, acrescentou nas laterais do nicho das Alminhas dois pequenos “altares” para estes Santos. Não tendo encontrado nas cidades vizinhas, nomeadamente em Braga, a imagem de Nossa Senhora das Neves, lá colocou a de Nossa Senhora de Fátima, que aparece com o título de Sra. das Neves numa pequena placa identificativa. Afinal a Senhora é a mesma. De referir que o Santo António está presente, no nosso país, em muitos painéis das Alminhas pois é considerado um importante Santo intercessor das almas.
 

 

 

Alminhas de Corvos

No lugar de Corvos, perto da antiga poça, encontramos as Alminhas feitas em granito e inseridas na parede da propriedade da família Capela. Estas Alminhas, no início da década de noventa do século passado, na sequência do alargamento da Rua de Corvos, tiveram de recuar e ser recolocadas, mantendo-se a sua estrutura. Aqui podemos observar um painel de azulejos, também pintado por F. Gonçalves, muito semelhante ao que encontramos em Figueiró de Cima e na Ponte D’Ave: alminhas em sofrimento rodeadas de fogo com as mãos erguidas a suplicarem a intercessão de dois Anjos e de Nossa Senhora do Carmo. Mais uma vez, lembrando os vivos da importância da oração, está a inscrição: “Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando”. Desconhecemos a data da substituição do painel em madeira pelo de azulejos, mas, tendo em conta o nome do pintor e os testemunhos recolhidos, deve ser do início do terceiro quartel do século XX. O nicho também está protegido por uma grade, tem no seu interior uma jarra com flores e, ao lado, encastrada na parede, uma caixa de esmolas.

A contemporaneidade dos painéis de azulejos das Alminhas de Bagunte faz-nos supor que talvez as ações de restauro tenham sido impulsionadas pelo sacerdote da época ou então, tendo umas sido restauradas, o brio das outras famílias tê-las-á levado a fazer o mesmo.


 

Obras de arte popular, merecem ser conhecidas, valorizadas e preservadas

Em tempos, nas caixas de esmolas das Alminhas, uma pequena ranhura no granito ou uma caixa de ferro enferrujada, eram deixadas muitas moedas e, por vezes até notas, que depois eram entregues à Igreja pelos zeladores para sufrágio das almas. Nas últimas décadas verifica-se um decréscimo muito acentuado das esmolas, especialmente naquelas que se encontram nos lugares com menos passagem. Tal significa que esta forma de religiosidade popular já teve noutros tempos mais devotos.

Os mais antigos dizem que agora está tudo muito diferente. Dantes as pessoas quando passavam junto das Alminhas faziam uma vénia, benziam-se, rezavam, deixavam uma esmola e os homens tiravam o chapéu. Atualmente, muitas pessoas passam por elas praticamente sem darem conta da sua existência. A este propósito, lembramo-nos que as Alminhas alimentavam o imaginário das crianças e se, por um lado, despertavam a curiosidade e o respeito, por outro provocavam algum medo, associado àquela fogueira com pessoas em sofrimento e, especialmente, quando apareciam junto delas objetos estranhos e os mais velhos falavam em bruxarias.

As Alminhas, apesar de serem modestas obras de arte popular, merecem ser conhecidas, valorizadas e preservadas e deve ser reconhecido o seu valor histórico, cultural e religioso. Também não podemos esquecer que chegaram aos nossos dias devido à devoção e ao empenho dos crentes que não deixaram cair a tradição popular e as foram zelando e preservando. Assim sendo, não podemos esquecer a importância de manter vivo este testemunho, quer conservando e restaurando, quer transmitindo o seu valor e significado.

Este pequeno levantamento sobre as Alminhas de Bagunte merece uma investigação mais aprofundada. Esperamos, contudo, que ajude a despertar o interesse por este singelo património e que receba a visita de todos. Dado que não encontramos registos escritos sobre as Alminhas de Bagunte, a recolha dos testemunhos orais foi crucial para a realização deste trabalho. Agradecemos a todos os que se dispuseram a conversar connosco e a partilhar as suas memórias.

 

Legendas imagens:

- Alminhas de Figueiró, 2021;

- Alminhas de Figueiró, pormenor do azulejo, 2021;

- Alminhas de Casal de Baixo, 2021;

- Alminhas de Casal de Baixo, pormenor do azulejo, 2021.

- Alminhas de Corvos, 2021;

- Alminhas de Corvos, pormenor do azulejo, 2021;
 

Bibliografia e Webgrafia:

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RODRIGUES, Olinda Maria de Jesus - As Alminhas em Portugal e a Devolução de Memória. Estudo, Recuperação e Conservação. Corpus das Alminhas. (Texto policopiado) Lisboa, vol. II, 2010. Dissertação de Mestrado. (Consult. 17 agosto 2021) Disponível em: file:///C:/Users/utilizador/Downloads/ulfl081918_tm_2%20(2).pdf

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VICENTE, Manuel Fernandes – Alminhas: Portugal foi o único país a criar estes monumentos. In Público, 02.12.10. Disponível em: https://www.snpcultura.org/vol_alminhas.html

 

Texto: Paula Viso

Imagens: Marisa Ferreira

 

 

 

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